Entre grandes problemas deixados pelos antigos prefeitos de São Paulo, coleta de resíduos sólidos está entre os mais graves (Mauricio Morais/arquivo RBA) |
Simão Pedro diz que sua pasta 'perdeu capacidade de planejar' e que
quase nada foi feito pela gestão anterior com vistas à Copa do Mundo de
2014
Por Eduardo Maretti - Rede Brasil Atual
O secretário municipal de Serviços de São Paulo, Simão Pedro (PT), disse
que a iluminação pública e a limpeza urbana foram deixadas sucateadas
pelas gestões anteriores, de Gilberto Kassab (PSD) e José Serra (PSDB), e
que encontrou em sua pasta o resultado do que classifica como uma
política de desmonte. "Eles cumpriram o papel de enfraquecer o Estado",
afirma. Segundo o secretário, um exemplo é a coleta seletiva de lixo,
área na qual Serra "fez um grande desserviço à cidade de São Paulo", com
o corte de verbas.
Morador da zona leste, Simão Pedro é graduado em Filosofia e tem
mestrado em Sociologia Política pela PUC-SP. Um dos dois deputados
estaduais nomeados pelo prefeito Fernando Haddad, reelegeu-se em 2010
para seu terceiro mandato na Assembleia Legislativa pelo PT, com 118.453
votos.
No parlamento estadual, foi presidente da Comissão de Serviços e
Obras Públicas e líder do partido entre 2007 e 2008. Ao ser nomeado
presidia a comissão de Educação e Cultura da Assembleia.
Segundo Simão Pedro, a cidade hoje recicla apenas 1,5% de todo o lixo
produzido, e a meta da atual gestão é chegar a 10% daqui a quatro anos.
Ele propõe oferecer internet grátis na cidade a partir da periferia e
afirmou que a Copa do Mundo, que será realizada em 2014 no Brasil, é um
dos seus maiores desafios. "Até agora, nada foi feito da nossa pasta."
Confira a entrevista.
Quais são as principais dificuldades deste início de sua gestão. Como recebeu a pasta do governo anterior?
Pegamos uma herança de devastação da máquina pública. Kassab e Serra
cumpriram o papel de enfraquecer o Estado. Por exemplo, a Ilume –
departamento da prefeitura que cuida da iluminação pública – está
totalmente desaparelhada, serviços todos terceirizados. Perdeu-se a
capacidade de planejar e fazer controle. A Amlurb (Autoridade Municipal
de Limpeza Urbana), que cuida da limpeza da cidade e gere contratos da
ordem de R$ 150 milhões por mês, também está desaparelhada, sucateada.
Uma de nossas tarefas é implantar uma autarquia prevista em lei de
2002, o que não foi feito, fazê-la funcionar para que ela consiga
gerenciar, acompanhar e fiscalizar esses contratos de serviços de
limpeza na cidade. A mesma coisa com o serviço funerário, uma máquina
de corrupção descontrolada e serviços muito mal prestados. Ou os
telecentros, que não se renovaram. Temos uma tarefa imensa de melhorar
esses serviços, tentar diminuir os custos, dar mais eficiência aos
contratos, aumentar nossa capacidade de planejar, fiscalizar e
gerenciar. Hoje São Paulo recicla 1,5% de todo o lixo. Temos a meta de
chegar a 10% daqui a quatro anos.
Há um cronograma para se chegar a esses 10%?
Na questão da reciclagem, dos 96 distritos da cidade só 74 têm coleta
diferenciada. Uma vez por semana os caminhões das empresas de limpeza
recolhem o lixo que vai ser destinado às 20 centrais de reciclagem
instaladas na cidade. Somente 40% das residências de São Paulo são
atendidas por esse serviço – o que é muito pouco para uma cidade que
produz tanto lixo.
Condomínios, shoppings, grandes geradores de resíduos diariamente,
pela lei devem contratar um serviço particular de recolhimento. Depois
que a taxa de limpeza foi extinta, a cidade de São Paulo recolhe lixo
gratuitamente do pequeno gerador (que produz até 200 litros de resíduos
por dia). Acima disso há mais de 50 empresas cadastradas na Amlurb para
fazer a coleta particular.
A nossa meta é levar a reciclagem para toda a cidade e implementar
mais 17 centrais de reciclagem, trabalhar os resíduos da construção
civil, já que muitos podem ser reciclados. É uma meta ousada, mas vamos
trabalhar muito para que a cidade tenha a sensação de que estamos
diminuindo o volume de lixo levado para os aterros e estamos ampliando o
conteúdo reciclado. Agora, claro que esse é um trabalho de longo prazo,
que envolve educação ambiental, conscientização e medidas que devemos
aperfeiçoar e implementar aos poucos.
A rede de articulação Coleta Seletiva do Butantã divulgou um
estudo recente que aponta que descartamos 93,6% de resíduos sólidos
secos, que poderiam virar material reciclável. Há algo referente a isso
previsto na revisão do Plano Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos?
Vamos aproveitar este ano, quando vai acontecer a Conferência
Nacional de Meio Ambiente, para realizar um encontro municipal e o
tratamento dos resíduos sólidos será o tema principal. A conferência
nacional vai acontecer em outubro e queremos realizar a etapa municipal
até agosto. Vamos revisar o Plano para tratar esse tema com cuidado, em
debate com a sociedade paulistana, porque ela ainda não foi envolvida e
não discutiu o problema.
É bom ressaltar que o ex-prefeito José Serra fez um grande desserviço
à cidade de São Paulo. Ele exigiu um corte de cerca de R$ 1 bilhão no
contrato de concessão de 20 anos, que começou em 2004, postergou para o
fim do contrato a ampliação dos investimentos em coleta seletiva e
implementação das centrais de coleta.
Pela concessão feita pela ex-prefeita Marta Suplicy, as
concessionárias que fazem a coleta do lixo na cidade deveriam fazer
investimentos, principalmente em educação ambiental e implantação das
centrais de reciclagem. O que o Serra fez foi jogar para o final do
contrato.
O ex-prefeito Kassab fez o pagamento no final do governo, o chamado
"equilíbrio econômico financeiro". Apoiamos o pagamento desse
equilíbrio, mas exigindo que os investimentos fossem trazidos para mais
perto. Por exemplo, a coleta aos domingos, ações de educação ambiental e
implantação dessas 17 centrais que serão feitas até 2016.
Em matéria de O Estado de S. Paulo no início de mês,
o senhor comentou que a prefeitura vai oferecer internet grátis em toda
a cidade, mas a avenida Paulista aparece como prioridade. Por que a
Paulista, se há uma periferia imensa e carente desse serviço?
Eu citei a Paulista como um exemplo de uma região da cidade que tem
um grande fluxo de pessoas, onde transitam muitos jovens. Tenho
gravado, não disse que a Paulista seria prioridade. Disse que
começaríamos pela periferia e, até junho, julho, queremos abrir o sinal
em alguns pontos da cidade para mostrar para a população que esse
serviço é possível.
Eu falei da Cidade Tiradentes, da favela de Paraisópolis, São Miguel
Paulista, parques como o Anhangabaú e a Paulista. Até julho, pretendemos
apresentar ao prefeito um plano de como será aberto o sinal na cidade
como um todo, em que regiões e que modelos vamos utilizar. Pelas
conversas que tenho tido com alguns especialistas, eles dizem que São
Paulo precisa ter um modelo único, por exemplo, estender cabos de fibra
ótica por toda a cidade e a partir daí abrir uma antena. Podemos ter
roteadores, vários modelos na cidade.
A Paulista é uma região importante, onde transitam muitas pessoas.
Mas, por exemplo, na região central circulam 2 milhões de pessoas.
Evidente que, abrindo sinal na Praça da Sé, no Anhangabaú e na Praça da
República, vamos atingir uma parcela grande da população da cidade
inteira.
Mas ainda não temos o plano desenhado. Citei esses bairros como
exemplos de regiões importantes, mas vamos estudar ainda e, até junho,
vamos apresentar um plano ao prefeito para trabalhar nos próximos quatro
anos. Também estamos preocupados evidentemente com a Copa. São Paulo
vai receber seis jogos, além da abertura.
Em termos de gestão, a perspectiva da Copa do Mundo atrapalha ou ajuda?
A Copa é uma oportunidade. Vamos receber muitos turistas, que vão
circular pela cidade, conhecer nossos monumentos, museus, parques.
Então, é evidente que queremos oferecer esses serviços aos cidadãos da
cidade e também aos cidadãos do mundo que vierem para usufruir desse
período em São Paulo e possam se comunicar. A Copa permite deixar um
legado e, quem sabe, possamos conseguir investimentos, recursos,
patrocínios. Como a Copa é em 2014, a gente trabalha com o tempo e isso
exige um trabalho mais preciso do poder público, com cronograma mais
apertado.
Para a pasta de Serviços, o que está sendo mais difícil resolver para a Copa do Mundo?
Até agora, nada foi feito da nossa pasta. A antiga administração fez
muito pouco, criou um comitê e se preocupou muito com a construção do
estádio. O prefeito Fernando Haddad nomeou a vice-prefeita Nádia Campeão
para presidir o comitê (Comitê Integrado de Gestão Governamental
Especial para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 – SPCopa) e ela está
trabalhando intensamente.
Queremos fazer uma Copa do Mundo sustentável e trabalhar a reciclagem
intensamente. Estou indo ao Rio (a entrevista foi gravada na
terça-feira, 19) para uma reunião no BNDES – que tem uma linha de
financiamento praticamente a fundo perdido para investimentos na coleta
seletiva e na modernização das centrais. O Rio de Janeiro, por exemplo,
recebeu um investimento do BNDES de R$ 50 milhões, a prefeitura de
Osasco recebeu R$ 10 milhões e a cidade de São Paulo não foi atrás na
gestão anterior. Agora espero receber uns R$ 70 milhões para investir.
Esse recurso está à disposição, por causa da Copa do Mundo.
Em relação à segurança pública, Alckmin e o Haddad fizeram
parcerias pelas quais o governo do estado mapearia áreas mal iluminadas,
por meio da PM, enquanto a prefeitura entraria com o serviço
propriamente dito. Isso está vigorando?
Na minha pasta, foi assinado um termo de cooperação entre a
Secretaria de Segurança Pública (SSP, estadual) e a Secretaria de
Segurança Urbana (municipal). A minha secretaria acabou entrando por
conta da iluminação pública, que tem a ver com segurança urbana. A SSP
ficou de nos oferecer o mapeamento das ocorrências de crimes de maior
incidência (estupros, assaltos, furtos) e vamos olhar com mais atenção
esses locais para reforçar e modernizar o sistema de iluminação nesses
pontos.
Mas essa parceria já está vigorando na prática?
Não recebemos ainda os dados da Secretaria de Segurança Pública. A
Secretaria de Segurança Urbana fez um relatório do mapeamento que a
Guarda Metropolitana fez de pontos escuros, onde a iluminação é precária
e tem problemas de manutenção. Vamos lançar um programa chamado
"Segurança e Cidadania" para dar atenção máxima para esses locais e
também reforçar e modernizar a iluminação com prioridade para os lugares
com grande frequência de público – escolas, hospitais, estações de trem
e metrô, terminais de ônibus.
Vamos fazer uma nova licitação para o sistema de manutenção, reforma e
remodelação da iluminação pública, porque o contrato em vigor termina
em julho deste ano.
E a chamada transversalidade, como vai ajudar a sua secretaria? Existem estudos sendo feitos conjuntamente com outras pastas?
Sim. Vou dar um exemplo: saiu um decreto instituindo um grupo de
trabalho entre secretarias de Planejamento, de Cultura e de Serviço para
pensarem juntas o oferecimento do serviço de wireless gratuito na
cidade. O governo criou também grupos de gestão integrada entre as 27
secretarias. A minha secretaria é o grupo da gestão integrada de
desenvolvimento territorial, que engloba a Secretaria de Serviços, de
Administração das Subprefeituras e de Segurança Urbana. Por exemplo, com
a Secretaria de Administração de Subprefeituras, fazemos esse trabalho
de diminuir os pontos de alagamentos constantes – já mapeamos 132
pontos.
Estamos intensificando juntos a limpeza de ramais e galerias. No
Brás, estamos fazendo uma ação de mudança de horário da coleta do lixo. O
prefeito prefere trabalhar assim: não tratar as secretarias como
caixinhas isoladas, porque isso não dá eficiência, nem efetividade. Essa
integração melhora sensivelmente a qualidade da gestão pública.
'Levar reciclagem para toda a cidade é trabalho de longo prazo', secretário Simão Pedro (CC/Gabriel Medina)) |
O senhor se reuniu com a Amlurb e com os catadores de
material reciclável, que sofreram muito na gestão Kassab. Como vai
atender esses trabalhadores?
Primeiramente, a reunião foi histórica porque eles disseram que nunca
foram recebidos na secretaria. Queremos articular as secretarias de
Serviços, de Direitos Humanos, Assistência Social, Desenvolvimento
Econômico e Trabalho e de Meio Ambiente, e os catadores e suas
organizações. Um comitê com representantes dessas secretarias se reunirá
periodicamente, para pensar de forma integrada o trabalho da coleta
seletiva.
Falamos da conferência municipal e do Plano de Gestão Integrada de
Resíduos que vamos rever, construir juntos, e a coleta seletiva
solidária, fazer aqui em São Paulo como na política nacional – o governo
Lula fez isso bem, em todos os órgãos públicos e ministérios. Estamos
fazendo um diagnóstico e conhecendo cada uma das cooperativas e seus
problemas.
Os catadores são importantes, e vamos tratá-los com todo o respeito,
como atores fundamentais, mais do que isso, agentes ambientais da
cidade, e temos que tratá-los assim, e apoiá-los nas reivindicações,
capacitar as cooperativas, buscar dar mais eficiência.
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